quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Escritores viajantes




Uns - como Pierre Loti, Joseph Conrad, Victor Segalen ou Nicolas Bouvier - partem para o fim do mundo para perseguir os seus sonhos, nascidos das suas leituras de infância; outros - Rudyard Kipling, Jack London, Joseph Kessel ou Bruce Chatwin - fazem-se ao caminho para encontrar temas para as suas obras. E há aqueles que, como Robert Louis Stevenson, não viajam para ir a algum sítio, viajam apenas pelo prazer da viagem.
Bouvier, por exemplo, a quem o Japão tanto acalmou, fez a pé os 140 km que separam Nagoya de Kyoto, fotografando camponeses e arrozais. "Levantar, partir, andar. Deus faz o resto."
Wilfred Thesiger, outro grande viajante, percorreu, ao longo de 45 anos, as últimas terras virgens da Arábia, de África e da Ásia, sempre acompanhado por guias locais.
Pierre Loti tinha um imenso fascínio pelo mar; Alexandra David-Néel - de quem se diz que tinha muito mau feitio - sentia uma enorme atracção pela Ásia e foi a primeira mulher ocidental a entrar em Lhassa; Victor Segalen chega à Ásia em 1909 e nem imaginava que este continente o iria absorver durante 5 anos. Histórias de vidas intensas.
Felizmente para nós, estes e outros viajantes colocaram no papel os relatos das suas viagens ou o resultado das suas reflexões.
Felizmente para nós, a editora francesa Arthaud publicou um livro belíssimo - "Écrivains Voyageurs, ces vagabondes qui disent le monde", de Laurent Maréchaux - onde se faz a devida resenha destas vidas. Contém fotografias, ilustrações, mapas e reproduções de capas de alguns dos livros que tornaram estes escritores famosos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A Europa dos cafés



"(...) As grandes ideias humanistas. Isso é a cultura europeia. Fora isso que Mann aprendera com o seu mestre, Goethe. E o próprio Goethe, na sua autobiografia Dichtung und Wahrheit, indica como data de nascimento do seu humanismo europeu: 25 de Outubro de 1518. (...)"
Este pequeno excerto do livro "A Ideia de Europa", de George Steiner (edição da Gradiva) - que vem mesmo a propósito no dia de hoje, em que a Palavra de Viajante faz um ano - é apenas um aperitivo.
Nele, Steiner, reflecte sobre a importância dos cafés na formação da identidade europeia. E, ao longo do Danúbio, essa importância está bem patente, ou não passasse o rio por cidades como Viena, Budapeste e Belgrado, onde se podem encontrar dos mais belos cafés do continente. "(...) Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da 'ideia de Europa.' (...)".

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O nosso Danúbio



Na próxima 5ª feira, dia 25, faz um ano que a Palavra de Viajante abriu ao público. Naturalmente, a nós custa-nos a acreditar.


Mas como é verdade, e como o projecto foi devidamente concebido numa viagem de carro ao longo do Danúbio, esse rio tão simbólico da Europa, vamos colocar em destaque os diversos países que ele atravessa. E, claro, o livro de Claudio Magris que nos inspirou.   Quando soube, Claudio Magris demonstrou carinhosamente por escrito a sua satisfação por ter influenciado algo que lhe é verdadeiramente precioso: uma livraria. Ainda hoje temos a sensação de não ter agradecido devidamente a essa grande senhora que tão simpaticamente nos veio mostrar a carta assinada pelo próprio Magris.   Magris nasceu em Triste em 1939 e tem reflectido de forma intensa sobre as questões de identidade e cultura da Europa, em particular daquilo a que chama a Mitteleuropa (a Europa cental). Em Danúbio, Magris leva-nos por uma viagem ao longo do rio e ao longo da história, da nascente na Floresta Negra ao delta, na Roménia. Uma obra fundamental, que obteve o Prémio Príncipe das Astúrias, em 2004. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

"Austerlitz", de W. G. Sebald


Há autores que têm de esperar por nós, esperar que nós cresçamos e atinjamos a maturidade suficiente para os podermos ler e entender como eles merecem. Se não tivermos a oportunidade, resta-nos desejar, como Nick Horny, que, quando chegarmos ao céu, possamos ser julgados pelos livros que comprámos e não pelos que lemos.
W. G. Sebald é um desses autores. Nascido Winfried Georg Maximilian Sebald, na Baviera, em 1944, morreu perto de Norwich, em 2001, num acidente de viação.
Da sua algo curta obra, aproveitamos para destacar "Austerlitz". Não por ser melhor do que os restantes, mas por ter sido editado recentemente pela Quetzal, numa altura em que a edição da Teorema já andava algo desaparecida das livrarias.
Livro enigmático, "Austerlitz" é sobretudo um exercício de memória, uma poderosa e longa reflexão sobre história e arquitectura, em particular a medieval e as antigas estações de comboios. Este livro, que se vai revelando aos poucos e a que temos de dar tempo de nos conquistar, acaba também por ser a história da Europa, através de uma insólita amizade entre Austerlitz e um escritor, que vai durar décadas.
A europa a olhar para o seu passado pode ser um exercício muito útil nos dias que correm.
Sobre Sebald fica aqui um link para um texto de Teju Cole, colaborador da The New Yorker e escritor que merece vir a ser conhecido em Portugal. Dele, aqui na livraria, temos "Open City", sobre um jovem médico nigeriano que vagueia pelas ruas de Manhattan.

http://www.newyorker.com/online/blogs/books/2012/07/a-visit-to-w-g-sebalds-grave.html

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"A lebre de olhos de âmbar", um livro fabuloso!




"A lebre de olhos de âmbar", de Edmund de Waal, foi finalmente editado em português, pela Sextante.

O autor, oleiro de profissão, recebe de herança de um tio uma colecção de 264 netsuke de madeira e marfim, nenhum maior que uma caixa de fósforos. Este é o pretexto para contar a história desta colecção e, desta forma, a história da sua família, desde que saiu de Odessa no século XIX, para Viena e Paris, dando novo ímpeto aos negócios familiares, uma prática comum a muitos judeus empreendedores nesta época.

A chegada a Paris e a instalação perto do parque Monceau (área então ainda por urbanizar), e a constituição daquela que viria a ser uma delicada colecção, adquirida por Charles Ephrussi (que ajudou de artistas como Renoir ou Manet), levam-nos literalmente numa viagem no espaço e no tempo. Conseguimos reviver esta Paris como se lá estivéssemos. Charles viria, aliás, a ser a grande inspiração para a criação da personagem Charles Swann de "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust.

A colecção vai parar a Viena onde, mais tarde, a família sofrerá horrores com o nazismo. A forma como a colecção se salva é digna dos maiores romances alguma vez escritos. Esta é, assim, também uma grande história de amor. Em tempos de paz e em tempos de guerra.

A colecção voltará ao Japão, de onde Edmund de Waal a receberá. E a sua relação com este país deixa-nos de novo deslumbrados. Não sendo um escritor de profissão, de Waal tem algo que, infelizmente, a muitos falta: uma enorme capacidade encantatória e uma mestria absoluta na arte de contar histórias. Naturalmente, sendo sobre a sua família, a história de "A lebre de olhos de âmbar" está-lhe afectivamente muito próxima, mas como sabemos isto não chega. Mas de Waal  dá-nos tudo, e dá-se todo. Ainda bem.

Este foi um dos primeiros livros que vendemos aqui, mas ainda na edição original, em inglês. No primeiro mês de vida da livraria, saíram 3 exemplares (um deles ilustrado), o que o tornou no nosso best-seller por uns tempos.


Mais uma vez, ainda bem, pois é um dos mais belos livros que pudemos ler nos últimos tempos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Os cem anos de Lawrence Durrell




Durante uns dias vamos celebrar o centenário de Lawrence Durrell. Donde, o destaque - literário e gastronómico - vai para a Grécia e o Egipto.
Lawrence Durrell nasceu em 1912, na Índia. A sua primeira verdadeira obra literária foi The Black Book, que apareceu em Paris em 1938, sob a égide de Henry Miler e Anaïs Nin, e que foi elogiada por T. S. Eliot.
A Grécia, o Egipto e, mais tarde, a Provence, foram os lugares que mais influenciaram a vida deste homem que se afirmava cosmopolita, em vez de britânico.
O primeiro dos livros sobre as ilhas, Prospero's Cell, é um guia sobre Corfu, escrito em 1945. O título - inspirado na personagem de A Tempestade, de Shakespeare - é já bastante ilustrativo da visão de Durrell desta ilha iónica.
Seguiram-se Reflections on a Marine Venus, sobre Rodes, e Bitter Lemons, sobre Chipre.
O relato dos seus anos na Grécia foi publicado sob o título de The Greek Islands.
O tempo que passou no Egipto esteve na origem daquela que é considerada a sua obra-prima: Quarteto de Alexandria. Alguém disse que ninguém se pode ter apaixonado verdadeiramente sem ter lido Justine, o primeiro dos volumes da tetralogia.
Quarteto de Alexandria foi terminado já no sul de França, onde Durrell escreveu ainda O Quinteto de Avignon e Caesar's Vast Ghost, este último com as suas reflexões sobre a história e a cultura da Provença, e que inclui também alguns dos seus poemas. Este livro surgiu pouco antes da sua morte, em 1990.