sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ébano

Desde 1957 e durante quatro décadas, o jornalista polaco Ryszard Kapuscinski percorreu o continente africano como correspondente da agência de notícias PAP.
Kapuscinski relata os momentos de optimismo pós-colonial, mas também o dia-a-dia marcado por conflitos, pela corrupção e pela pobreza das grandes cidades africanas. Como é habitual, o autor fala da sua experiência sem se precipitar em análises políticas.
Tendo viajado por países como Angola, Gana, Nigéria, Tanzânia, Somália, Eritreia ou Ruanda, entre outros, a África que o autor nos apresenta é a da gente comum: vendedores ambulantes, motoristas de autocarro, desempregados, mineiros. Como ele próprio escreve que África é um continente demasiadamente grande para ser descrito. É um verdadeiro oceano. Um planeta diferente, composto de várias nações, um cosmo múltiplo. Na verdade, a não ser pela denominação geográfica, a África não existe.
Em 2000, quando foi considerado pela revista "Lire" o Melhor Livro publicado em França nesse ano, Francisco Sena Santos escrevia no "Diário Económico" que cada reportagem de Kapuscinski é um combate pela dignidade, contra a indiferença.
E é bem verdade.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Mayakovsky na América



O poeta futurista russo Vladimir Mayakovsky - cuja antiga casa, em Moscovo, é hoje um museu, com uma impressionante entrada em estilo construtivista e uma interessantíssima exposição permanente de cartazes de propaganda concebidos com Aleksandr Rodchenko - era, acima de tudo, um revolucionário.

Nos anos 20 viajou pelos E.U.A. e pela Europa, e acabou por suicidar-se em 1930, com 37 anos.

"My Discovery of America" é o relato da sua viagem pelos Estados Unidos, em 1925. Ficou impressionado com o modelo de desenvolvimento tecnológico, tendo sentido um futurismo primitivo na criatividade americana. Mas também não deixou de notar nas injustiças sociais do capitalismo selvagem, aproveitando para expor as suas crenças políticas.

O livro, em inglês, tem prefácio do escritor irlandês Colum McCann, autor de vários livros de ficção, entre os quais "O Bailarino", um romance biográfico sobre Rudolph Nureyev, e "Deixa o Grande Mundo Girar", com o qual venceu o National Book Award 2009, e que narra a história de Philippe Petit, o homem que esticou um cabo de aço entre as duas Torres Gémeas, em Nova Iorque, e realizou o maior acto de funambulismo de todos os tempos.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

À volta da Ilha do Fogo, Cabo Verde

Nha terra nha sodade - regresso sentimental aos trilhos da morabeza
O viajante madeirense António Barroso Cruz vem falar-nos da Ilha do Fogo, com imagens e poesia. É já no sábado, dia 21, às 17h30.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Byrne de bicicleta

Os artistas normalmente só mostram a sua persona pública. E nem sempre ficamos a saber quanto desta representa realmente o ser humano que está por detrás.
Em "Diário da Bicicleta" (Quetzal), David Byrne, fundador da banda Talking Heads, revela muito do que pensa sobre diversos assuntos, como a música, o urbanismo, a moda ou a arquitectura, enquanto pedala pelas cidades onde dará concertos. Quanto mais pedala, mais se convence de que o ciclismo urbano favorece um conhecimento mais profundo e enriquecedor dos locais e das suas dinâmicas e pulsações.
E como isto renova o olhar sobre nós próprios. Na página 170, descreve como, de regresso de Buenos Aires, num voo da American Airlines com destino a Miami, "(...) O inconfundível timbre nasalado de um sotaque americano ecoa no avião (...). As vozes irradiam confiança, superioridade (não soam muito flexíveis ou de espírito aberto, e não são). Depois das vogais suaves e sensuais da América Latina, isto - a minha língua - soa duro, cruel, autoritário."
Mais uma prova de que viajar abre os horizontes.
Fica aqui um artigo sobre a paixão do músico e artista plástico pelas bicicletas:
http://mobilidadesuave.org/david-byrne-e-a-bicicleta/

quarta-feira, 11 de abril de 2012

De bicicleta pela Alemanha

Jerome K. Jerome (1859-1927) esceveu "Três Homens num Bote", que se tornou um clássico (e que lhe permitiu dedicar-se à escrita desde então), e, dez anos depois, pegou nas mesmas personagens e levou-as a dar um passeio de bicicleta, desta vez na Alemanha, com a Floresta Negra como meta.

Um retrato divertido (por vezes mesmo hilariante) da sociedade alemã e das suas particularidades. O facto de o livro ter sido escrito em 1900 não lhe retira a actualidade. Fica aqui um excerto:

"Os alemães gostam muito de cães, mas em geral preferem-nos de porcelana. O cão de porcelana não escava na relva para enterrar ossos e não espalha canteiros ao vento com as patas traseiras. Do ponto de vista germânico, é o cão ideal."

Durante a Primeira Guerra Mundial conduziu ambulâncias para o exército francês, dado ter sido rejeitado pelo exército inglês, devido à idade (tinha, na altura, 56 anos), tendo sido profundamente afectado pela experiência.

Ambos os livros estão publicados em Portugal pela Cotovia.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A Islândia de Pierre Loti

"Pêcheur d'Islande", de Pierre Loti, pseudónimo do escritor e oficial da marinha francês Julien Viaud (Rochefort, 1850 ­ Hendaye, 1923), foi publicado em 1886.
À semelhança de grande parte da sua restante obra, este romance é inspirado nas suas viagens. Nele se evocam aqueles marinheiros bretões que partem por vários meses para pescar nas águas islandesas.
Ao longo do livro são descritas três campanhas de pesca sucessivas (de 1883 a 1885) sob um fundo de intriga amorosa, num mar devorador de homens e criador de viúvas.
"Pêcheur d'Islande" foi um grande sucesso deste escritor apaixonado pela Turquia (e, mais em particular, pela sensualidade feminina das turcas), talvez por aqui se ter libertado da camada de exotismo que era característica dos seus livros anteriores.
A imagem reproduzida acima é o retrato de Loti da autoria de Henri Rousseau, datado de 1891.

Encerrada na Páscoa

Na Sexta-Feira Santa e no próximo sábado - dias 6 e 7 de Abril - a Palavra de Viajante estará encerrada. Voltamos na 3ª.
E como vamos destacar a bicicleta enquanto meio de transporte em viagem, vamos ter umas sandochas especiais e muito saudáveis.